domingo, 23 de agosto de 2015

Seremos sempre o tempo e sua maior expressão e Legitimidade

Nos tornamos as escolhas que fazemos, Igualmente somos as escolhas que não ingressaram na lista de opções. Ao longo do caminho, abandonamos velhos hábitos, pessoas e ações. Todavia, não se engane pois também somos abandonados. Às vezes somos abandonados por amar demais, por amar sem amarras ou escrúpulos - Esse mesmo amor é terrivelmente assustador para pessoas que sofreram demais ou jamais se permitiram ser amadas. Ao longo da nossa história somos reflexos de todas as nossas ações, desejos & percepções. Nos primórdios de nossas respectivas existências, escolhemos não escolher - Nossa insegurança, despreparo ou ignorância não nos permitem enxergar com clareza o que estamos prestes a vislumbrar ou experimentar. Cabe, a cada um de nós, um profundo exercício de reflexão e imersão sobre o que somos, sobre o que nos tornamos e até mesmo, o que permanece inalterado ou conquistado em nossas respectivas histórias pessoais. Quanto à mim, apenas me curvo diante desse enigma do tempo e sua impassível influência sobre tudo o que serei e o que ainda, em elaboração e processo, me tornarei. A legitimidade das minhas ações & crenças não me fazem melhor, apenas um homem integral - Capaz de se reconciliar com a vida, a dor e o amor. Para o restante, apenas indeléveis impressões sobre o tempo e sua história. Gilbert Antonio.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Eu, ele e outras histórias...

“sim, nada é mais difícil e delicado, até mesmo sagrado, quanto o ser humano Nada pode igualar o poder voraz desses misteriosos elementos que, sem grandeza ou finalidade nascem entre os desconhecidos para acorrentá-los pouco a pouco com elos terríveis. “ Witold Gombrowicz. Sobre homens & lobos, razões & sensibilidades, eram para eles que as histórias se curvavam e diante deles eram retribuídas oferendas. Eram temidos e destemidos ousando outras vestes, defendendo individualidades e segregando segredos íntimos. Fugazes e algozes, transitavam pelo mundo em busca de coisa alguma e de todas as coisas. Guardavam em si e no outro a justificativa de suas respectivas libérrimas existências. Sucumbiam em suas próprias sedes e fomes, todavia guardavam em si uma ironia estudada, pseudo idiotizada para aqueles dias bicudos demais. Talvez, por ironia do destino e profana providência, eles se encontraram. Certo desconforto, certo mal-estar instalando-se no peito, depois no estômago e também nas virilhas viris – Coisas de machos homossexualmente estereotipados demais. Era ele, sendo o outro e ambos sendo individualmente cada um deles. Saga & inferno – onde todos queimam sem piedade, entretanto com dignidades imaculadas e silêncios consentidos. Ainda sobre o signo demente de valores perfeitamente questionáveis, se aproximaram – Se aproximaram como se aproximam as tempestades. Combinaram o ácido & o mel. Alquimistas, eles combinavam palavras & citações, acusando verdades equivocadas demais. Naquele exato momento, sem saber, sabiam que selavam o inevitável, que conduziam um ao outro, experimentando o abismo, o amargo e o agridoce dessas horas insuportavelmente intensas e derradeiras. Embora contraditórios e equivocadamente semelhantes, sabiam-se ligados, atrelados a essa confraria oficialmente instituída e absurdamente siamesa. Neuróticos assumidos, eles eram encrenca garantida. Tinham o despudor de causar desconforto e confessa vergonha entre os seus, ou seria inimigos?! Não sei precisar. Concordavam tacitamente e aos poucos a teia do tempo, a necessidade de pertencer a essa ou aquela esfera, eles se olharam pela primeira vez, olhando a si mesmos, olhando o inevitável e irreversível reconhecimento de si no outro e vice-versa. Não chegaram emprestar os olhos para que o outro pudesse desfrutar dessa linda história horrível. Arriscaram olhar sem os olhares treinados. Estavam dispostos a enxergar de forma nua e crua o infinito obscuramente obsceno de suas verdades mais ultrajantes e docemente equivocadas. Eram eles dois fantasmas apegados a derradeira realidade superficial. No fio da navalha dançariam e igualmente seriam empurrados para o abismo. Minuciosos homens, expostos entre outros homens – arquétipos e artefatos construindo conceitos desprendidos de todo e qualquer pudor, afinal viver é para loucos e poucos, sobrevivendo somente os retos de coração e puros de alma. Ledo engano, afinal eram também monstros, canalhas e sofregamente a escória e falácia de uma geração conservadora demais para ser livre e bonita. Bem depois da tempestade, das horas úmidas falando de entregas mal-resolvidas, ele, sem avisar, abria todas as minhas portas mais íntimas... Chegava trazendo consigo areia de grandes desertos... Tinha nos olhos aquelas solidões primeiras... Carregava em si uma história de grandes batalhas, de guerras, de anjos e conhecidos demônios... Os passos largos ressoavam destemidos por corredores e quartos. Largava as bagagens como se libertam pássaros de seus cativeiros... Ele chegava como bons ventos, entretanto repleto de presságios, mantras e segredos desnudos. Sabia-se denso, intenso e inexoravelmente exigente. Ele, sujeito esculpido em eras rupestres, ostentava dores & cicatrizes e, em outras ocasiões, era simplesmente um homem de caráter ilibado e rigorosa personalidade. Trazia em sua voz a parcimônia de solitários disciplinados. Sempre atento e neuroticamente comportado. Eu, por conseguinte, era um homem rudimentarmente delicado. Ironicamente, guardava em meus olhos a sutil ironia a ocultar as insuspeitas obviedades que tudo despertavam, entretanto, nada revelavam. Eu era um homem de grande trânsito em pessoas, contudo com grande dificuldade de estabelecer toda e qualquer intimidade. Sim, homens se reconhecem nessas sensíveis dobras que guardam ou escondem grandes constatações e tatuam intimidades expostas clara e ousadamente transparentes. Éramos homens de sensíveis camadas, guardávamos sorrateiramente os mais doces segredos e os mais terríveis medos. Camaleões, nós confundíamos os nossos cúmplices e, quem sabe, jamais revelaríamos a fina estampa que envolvia nossos desejos mais sacanas. Guardávamos na forma, na textura, no aroma, no gosto e no prazer essas justificativas tardias que não convenciam nem mesmo a nós dois. Sabiam-se fantoches e também cárceres do séquito de emoções e previsíveis concordâncias. Espreitávamos bibliotecas e radicais livreiros, pintávamos à cor oculta todas as emoções que ousassem não saber dosar as palavras e sentimentos, pois as confissões contidas nelas chegavam como vômito, fogo e ferro em brasa. Permitíamos que esculpissem em nós a criatura e a criação parindo assim a placenta da suspeita e da covardia. Nunca fomos muito bons em retratar a realidade dos fatos. Tecíamos silenciosas teias como soubéssemos que as mesmas encobriam o irreversível e inevitável. Bem sabíamos que já não éramos os mesmos e tampouco gozávamos de tal consciência. Entre o meu discurso e o dele, as palavras se achocalhavam ansiosas entre emoções e expiações. Eram homens refeitos em contornos íntimos e infernos interiores. Não, não reclame e tampouco ouse fazer deduções prematuras ou infantis demais. Ainda que eu te cause medo e ameace a tua liberdade, prometa-me que ousarás enfeitar o mundo com o teu estigma. Notoriamente nos perturbávamos e passávamos a nos instigar e violentar essas zonas de conforto, pintadas à cor oculta que tudo revelam e que nada temem. Revelam o fundo nervoso e vermelho, pulsante e livre a escarrar em nossas caras essas amenidades que nada mais sustentam ou confortam. Sabíamos que não seríamos amados mais, ou melhor. Sabíamos que seríamos amados de acordo com as necessidades e insustentáveis carências. Nossa existência era justificada e o que estávamos prestes a viver ultrapassaria todo e qualquer entendimento. Amar demanda tempo, comprometimento, envolvimento e paciência. Tínhamos consciência quando delegássemos ao outro a missão e responsabilidade em nos oferecer a felicidade em troca de nossa sanidade, estaríamos comprando o passaporte para nossa infelicidade. Sabíamos, ou desconfiávamos que o outro, em sua natureza e atitude não poderia ou sequer, gostaria de contrair tal responsabilidade ou dívida. Tais experiências e comprometimentos eram, em suas respectivas essências, um processo individual e pessoal – sem delegações ou projeções. Quando vivemos a prática de nossa existência voltada ao outro, perdemos a consistência da realidade. Acabamos por responsabilizar o outro em comensurar e justificar tal existência. Talvez, o maior de todos os enganos em viver sob tal perspectiva é perder a oportunidade de experimentar a beleza e ousadia de sermos em síntese, o que nos tornamos e em contrapartida, o que faremos a partir de tal experiência. Assim, chegávamos ao momento, onde poderíamos escolher em como viveríamos e igualmente usufruiríamos de nossas experiências e crenças. Sempre soubemos ou desconfiamos que tais vivências guardavam em si, a beleza, o horror e o prazer em entregar-se, em desnudar-se de toda e qualquer resistência nessas constatações irreversíveis e irremediáveis. Não me recordo se fui o primeiro a abrir a guarda, de revelar o interior desnudo, de expor as minhas naturezas mais íntimas, sagradas e secretas. Ele, sem saber, sabia que estávamos prestes a atravessar essa película limitada e outrora machista, para avançar, para provar desse doce e voraz prazer: o desconhecido. Queiramos ou não, vivemos, existimos e estamos nesse mundo essencialmente por nossa conta e risco. Tal decisão requer a sutil maestria de se lidar com a ausência da impossibilidade de realização. Tampouco gostemos ou não, seremos abandonados e abandonaremos também (quantas vezes se fizerem necessário). Nossa incapacidade em proteger os que amamos é frágil e inevitável bem como, o abandono mútuo – de si e do outro. Não sei se conseguiria precisar quando finalmente ele, e seu tácito poder instalaram-se; primeiro em meu plexo... Logo após em meu estômago, como um soco, como uma ânsia de grandes esperas. O universo constituído ao meu redor parecia curvar-se diante dele. Atônito, eu aguardava o inusitado... Aguardando também essa intranqüila ânsia que invadia sôfrega todos os meus desejos & medos... Ele calou e sorriu. E calando e sorrindo pouco depois de falar de amor, ganhou um inesperado contorno, ora leve, ora brutal, entretanto cheio de uma doçura estudada, suas palavras perderam o sentido e sua razão prescindiu de frieza ou proteção. Pela primeira ou última vez penetramos um no outro através das semelhanças siamesas e novamente me dirigi até ele. Primeiro, esqueci as formas, os contextos e as regras, bem depois, fiquei leve, livre e ousadamente feliz. Tudo isso, para que ele não temesse ou também, não fugisse. Desta vez, eu não retrocederia. Eu não precisava ser forte, tampouco precisava me explicar. Eu, ele, nós, só precisávamos estar ali – ali, onde é doce ser beijado, ali, onde nos despimos do medo, da forma e também do conceito. Ali, nus e espontâneos pudéssemos acariciar todas as ausências e medos anteriores e a partir disso, explodir dentro de mim, dentro dele, essa benção, essa escolha ou nossa desgraça. Havíamos experimentado algo único, exclusivo ou tipicamente comum. Não sei, não preciso saber. Uma porção cinzenta de todos os calmantes, ansiolíticos ou moderadores de humor. Vezenquando, eu só queria saber que o meu gostar por você foi sempre mais, ou menos, mais foi também a dor de tudo aquilo que dói vezenquando, mas já não dói tanto, já não corrói em demasia, nem tampouco chega ao absurdo de doer para sempre, afinal sofrer é opcional. Gilbert Antonio May, 6th, 2012 02:45 My sacred spot. Tannat wine – 2004

domingo, 29 de abril de 2012

Minhas saudades têm as cores de todos os desejos do mundo. Falam de todos aqueles que partiram, que ficaram e até mesmo, os que ainda nem chegaram.
Minhas saudades são cheias de emoção, às vezes, até mesmo, são invasivas, impertinentes... às vezes, são só saudades... Falam de outros mundos, de outros lugares, de outras pessoas... Controvertidamente são, também saudades preguiçosas... lânguidas... se aconchegando nos contornos mais íntimos da forma, da textura, do gosto e da sensualidade...
Minhas saudades são consensuais... banais, triviais... são saudades nostálgicas e melancólicas... Ainda assim, são saudades. Minhas saudades falam de cartas ainda não escritas, não recebidas, não enviadas e tampouco endereçadas.
Minhas saudades são em carne viva, em pedra, esculpidas em unhas e com unhas, Minhas saudades estão tatuadas na pele que habito: Elas tem nomes, marcas, escaras, cicatrizes, relevos e itinerários.
Muitas vezes, essas saudades decidem acontecer todas ao mesmo tempo. Nesse momento, sou invadido por todas elas. Me afogo, engasgo e engulo. Estou farto, saciado -Um verdadeiro glutão saudoso. No meu rosto, um sorriso de multidões - à mesa, comigo, novas saudades se acomodam e me convidam para o prato principal.

sábado, 3 de março de 2012

eu , por mim mesmo...

Me embriago de falas internas, Diálogos & Monólogos íntimos.
A fúria com que a vida me habita é por vezes, insuportável. Tudo, sem exceção alguma, é visceral.
Minhas desmedidas tempestuosidades tatuam em carne viva todo o desejo.
No final, o que me resta,
é ler em braille teu nome de vendavais.